PROTÁGORAS E O GLAMOROSO CASO DA PRISÃO DO GUARDA SÓCRATES

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Desembargador Ricardo Dip.

 

  1. Protágoras sempre teve suas esquisitices, manias que toda gente parecia passar por alto quando ele, com ares de compunção, dizia que não se ligasse, “ele era assim mesmo”. (Isto parece uma chave ótima para escusar a insensatez mais estúpida que se imagine de qualquer conduta: “ele é assim mesmo, não ligue…”. Em outras palavras: desculpe-se ele sempre).
  1. Protágoras envolveu-se outro dia num acidente de trânsito. Coisa meio séria. A quase todos convenceu de que, embriagado, conduzia seu automóvel e em elevada velocidade porque “ele era assim mesmo”. Muitos se comoveram com o destino de quem era assim mesmo; todavia, Protágoras não persuadiu um burocrata de turno que, na repartição de trânsito, com uma gravata meio gasta, manteve não só a pesada multa que se impôs (e o Protágoras, sendo assim mesmo, não tolera que lhe tirem centavo algum dos bolsos), mas também a suspensão do direito de dirigir por longos 12 meses.
  1. Protágoras é assim mesmo. Não se deu por vencido. Com direito a dirigir ou sem ele, pôs-se com seu automóvel no trânsito caótico dos burocratas, e deu de cara com um tal de guarda Sócrates. Guarda sensato, mas que pergunta demais. E tão demais que perguntou sobre a carteira de habilitação do Protágoras. Mas este, já se sabe, é assim mesmo e não hesitou em dizer que “para conduzir bicicleta não se exige habilitação”. O guarda Sócrates espantou-se um pouco e seguiu sempre a perguntar: “Mas este automóvel, tendo quatro rodas, é bicicleta?”.
  1. Protágoras não hesitou (ele é assim mesmo): “Isto é uma bicicleta e não um automóvel, porque só assim eu serei feliz. E digo mais: se posso ser mulher, ou ser nem-homem-nem-mulher, por que raios isto que fabricantes disseram ser automóvel não poderia ser, para mim, uma simples bicicleta?”. Prosseguiu aquele gênio lógico que é assim mesmo: “Se a natureza que Deus criou pode ser alterada pela simples imaginação ou o sentimento dos homens, por que não o poderia ser aquilo que estes homens produziram?”.
  1. O guarda Sócrates está preso por afronta ao direito à felicidade. (Não se sabe ao certo por que não o libertaram na audiência de custódia).

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