Parte I: https://mmjusblog.wordpress.com/2017/07/28/e-sereis-como-deus/
Como visto em nosso artigo anterior, a narrativa da criação e da queda de nossos primeiros pais (especialmente de nossa primeira mãe) revela-nos coisas essenciais acerca da natureza que nos cerca e, especialmente, diz muito sobre nós mesmos. Deus, sendo o Bem absoluto, nada podia criar que não fosse bom, razão pela qual a criação é boa. O ser e o dever ser das coisas coincidem. As proibições, os mandamentos e as permissões divinas enraízam-se na natureza dos seres das coisas e não num capricho voluntarista do Criador. Contudo, a partir da aceitação por Eva do engano da serpente, passou a haver, no ser humano, uma dúvida acerca da bondade de Deus e de toda criação; com frequência, cremos que as coisas não são como deveriam ser e pensamos que os imperativos morais são fruto de um voluntarismo divino; e, sobretudo, há em nós o desejo de sermos como o próprio Deus.
Pois bem.
A ideologia de gênero afirma que a pessoa constrói, no transcurso de sua vida, o gênero ao qual pertencerá, podendo, inclusive, decidir não pertencer a gênero algum, pelo que não há algo como macho e fêmea (זָכָר וּנְקֵבָה). Os papéis de homem e de mulher são construtos sociais e é necessário desconstruí-los para livrar o homem de podações absurdas fundadas, em última análise, não na natureza, não no ser das coisas, mas na vontade do corpo social. No fundo, trata-se de uma versão laica da mesma revolta metafísica.
A realidade, contudo, é claramente diversa. A existência de dois sexos em toda a criação é algo evidente e negá-lo, portanto, é abrir mão da realidade. Salvo, é claro, se alguém estiver disposto a comprar a ideia de que existem papeis sociais construídos na sociedade das vacas e dos bois, dos porcos e das porcas, dos cães e das cadelas…
Acho que poucos chegariam a tanto.
Mas atualmente não se pode excluir possibilidade alguma, por mais ridícula que seja. Recordo, novamente, que, conforme já esclarecido em outro artigo, o homem moderno está treinado para fechar os olhos à realidade e para apegar-se às teorias mais absurdas. Comporta-se, em suma, como um louco num hospício. Se há gente disposta a apegar-se à teoria queer, talvez um dia surja alguém levantando a bandeira da desconstrução dos papeis tradicionais de bois e de vacas; máxime se tal for necessário para satisfazer algum desejo tolo e infantil.
Além disso, há, ainda, o apelo à revolta metafísica que herdamos de nossa primeira mãe. Em maior ou menor grau, todos estamos revoltados com nossa própria realidade e, pudéssemos, mudaríamos algo nela. Em graus extremos, há muitos seres humanos que estão revoltados com o fato de terem nascido homem ou mulher. São pessoas que sentem uma ruptura radical entre o que são e o que deveriam ser. É a esse público que a ideologia de gênero apela, vendendo-lhe a esperança de ser possível recompor essa ruptura imaginária, mas na qual acreditam profundamente.
Enquanto houver algum ser humano pisando na Terra, haverá pessoas revoltadas com o ser das coisas; sobretudo, haverá algumas especialmente revoltadas com o seu próprio ser, crendo que deveriam ser coisa diversa do que são. Infelizmente, nunca faltará massa de manobra para loucuras como a ideologia de gênero.
Penso ser necessário, a esta altura, dar alguns exemplos desta revolta metafísica para ilustrar o que temos exposto. São alguns poucos casos, pinçados em meio a muitos outros.
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FIGURA 02:[2]
FIGURA 03:[3]
No primeiro exemplo, tem-se um jovem americano que já gastou uma pequena fortuna para transformar-se num alienígena. Mas não num alienígena qualquer. O desejo dele é o de ser um alienígena assexuado. Sem a chave da revolta metafísica já mencionada, seria um verdadeiro mistério que alguém deseja ser algo que nunca viu e que, com a máxima probabilidade, não existe.
No segundo caso, tem-se uma pessoa que nasceu homem e, posteriormente, “transformou-se” numa mulher. Agora, quer mesmo é ser um cavalo. Escolhemos esse exemplo para mostrar ao leitor que a revolta consigo mesmo é algo que simplesmente não cessa com a “mudança” de sexo que muitos desejam e que se incentiva mais e mais. A revolta com a natureza está em nós e faz parte do ser humano, razão pela qual não é dando-se asas à revolta que se resolverão os problemas de pessoas como esta.
Por fim, a terceira é uma mulher que afirma estar na espécie errada. Ela diz ser um gato. Anda de quatro, tem medo de cachorro; sente horror de água e comunica-se com miados. Mas, por mais que esteja convencida de estar na espécie errada, o certo é que está na espécie certa; é o que deve ser. Jamais, por exemplo, terá pelos de gato, unhas de gato e nunca gerará gatinhos. Aliás, já viveu mais do que pode viver um gato e dificilmente gostaria de ser um bichaninho e ter a expectativa de vida de um deles.
Haveria muitos outros casos. Há mulheres dragão; há homens sereia (ou sereio, sei lá); há homens zebra; há de tudo um pouco. O que os une, e o que une tais casos àqueles de pessoas que querem rejeitar como mero construto o sexo em que nasceram, é que todos levam a extremos uma revolta existente em cada ser humano.
Talvez algum leitor argumente que os exemplos acima são casos patológicos. Eu replicaria dizendo que tal leitor está correto, mas que tal percepção apela, perceba ele ou não, à normalidade das coisas. Apenas quem está ancorado na noção do normal é que pode afirmar que determinado fenômeno é doentio. E a definição do que seja um comportamento humano normal ou será arbitrária ou se sustentará na natureza mesma do homem. E em nenhum dos dois casos um ideólogo do gênero estará à vontade.
Em outras palavras, um defensor da ideologia de gênero não pode argumentar que tais casos são doentios, pois ele defende, em suma, que a pessoa é o que quer ser. No máximo, pode-se dizer que poucos, hoje, chegariam aos extremos acima e que, assim, casos como os exemplificados são excepcionais. Mas, o que é excepcional hoje, pode ser a regra de amanhã se não houver uma correspondência no real das coisas para medir-se o que é normal e o que não é.
Assim, nem o alienígena assexuado, nem a mulher cavalo e nem a menina gato podem ser considerados, dentro dos cânones da ideologia de gênero, como anormalidades. Mas, ainda que alguém se diga uma égua e que queira copular com um cavalo, o fato inconcusso, ao final das contas, é que essa pessoa segue sendo um ser humano igual a todos os demais; ou macho ou fêmea. E ao menos a maioria seguirá percebendo o óbvio e tratando a pessoa por aquilo que ela é, e não por aquilo que ela pensa que deveria ser.
Ora, se tais casos são manifestações de uma revolta e trazem como consequência um alheamento da realidade, é óbvio que uma sociedade minimamente saudável se esforçaria por conter a primeira e por ajudar estas pobres pessoas a retornar à segunda. Seria de se esperar que desde o cidadão comum até os legisladores e os magistrados, todos trabalhassem para que a revolta metafísica que há em nós fosse devidamente contida.
Mas nossa sociedade está longe de ser saudável. Por isso, ao invés de se combater a revolta metafísica de que falamos, cada vez mais tenta-se forçar o homem comum a aceitar como válida uma opção que é, claramente, equivocada. Tal tem sido o papel dos ideólogos de gênero, que usam dos meios de comunicação social para tanto. Para completar a tragédia, legisladores e juízes estão elegendo a revolta metafísica, e, portanto, a aversão à realidade que ela contém, como valor a ser tutelado.
As razões mais profundas pelas quais tanto os legisladores quanto os magistrados estão aceitando teoria tão absurda a ponto de tutelar suas consequências mais drásticas, contudo, não podem ser explicadas apenas com a influência dos meios de comunicação social. Parece-me que a aceitação da ideologia de gênero entre eles é mais afoita do que aquela que se verifica no homem comum, que, a rigor, é mais propenso a se deixar influenciar pelos meios mencionados.
Por isso, penso que a explicação deve ser buscada em outro local. Conforme já insinuado, legisladores e juízes aceitam tão facilmente a ideologia de gênero em grande parte por causa daquele desejo antigo latente em todos os descendentes de Eva: o de ser como Deus.
Mas isso será objeto do último post da série.
Parte III: A Tutela da Revolta e a Ascenção do Estado Totalitário.
[1] Fonte da imagem: http://cenapop.virgula.uol.com.br/2017/03/02/130068-americano-gasta-r-150-mil-em-cirurgias-para-se-transformar-em-alienigena/
[2] Fonte da imagem: http://blogreflexoes.wixsite.com/reflexoes/single-post/2015/12/06/Nasceu-Homem-Virou-Mulher-e-Agora-Quer-Ser-Cavalo
[3] Fonte da imagem: http://blogs.oglobo.globo.com/pagenotfound/post/jovem-diz-que-nasceu-na-especie-errada-e-insiste-que-e-gata.html