Nossos antepassados da Península Ibérica perderam sua terra em pouco mais de 10 anos. Praticamente toda a região em que hoje estão Portugal e Espanha foi tomada pelos mouros em pouquíssimo tempo, até o momento em que os invasores bateram de frente com a altivez inquebrantável de Pelayo e cessaram seu avanço. Mal sabiam eles que, ali, naquela primeira vitória do ibéricos, iniciava-se sua derrota total. Nos séculos que se passaram, ano após ano, palmo de terra após palmo de terra, nossos antepassados reconquistaram, a duras penas, o que haviam perdido a toque de caixa. Nunca desistiram. Jamais deixaram de lutar até que a vitória fosse completa.
E, nesse processo de reconquista, surgiram Portugal e Espanha. Dessa guerra épica, como broto tardio, nosso próprio país foi gerado. E, tal qual ocorrera com os ibéricos do século VII, nos últimos anos vimos a alma do brasileiro ser tomada por inimigos revolucionários, a ponto de, ao menos para muitos, não ser mais possível recuperarmos o que havíamos perdido.
Pois bem.
No dia de hoje, a presidente da República, após o devido processo legal, acaba de ser afastada de suas funções. Teoricamente, pode a elas retornar caso o Senado, presidido excepcionalmente pelo mais alto Magistrado brasileiro, não a condene em 180 dias. Mas quase todos dão por certo que, com o afastamento, dado o cenário político atual, não há retorno provável.
Seja como for, o momento é histórico. E não o é simplesmente porque qualquer impeachment sempre é um acontecimento epocal, capaz de mudar a história mesma de um país. Antes, o acontecimento é histórico porque simboliza algo de extraordinário nesta terra que nasceu para ser de Santa Cruz: ele representa o influxo mesmo da revolução mencionada, que, conforme já dito, parecia destinada a destruir de vez a alma do povo brasileiro e a transformar nossa sociedade para sempre.
Com o afastamento da presidente, sai de cena, ao menos temporariamente, o partido que, desde os anos oitenta do século XX, mais encarnou os ideais revolucionários com vistas a impor ao Brasil a agenda da Nova Ordem Mundial. E sua saída se dá num momento em que forças conservadoras (umas mais, outras menos) começam a perceber claramente o que está acontecendo, levantando-se para tentar reverter o mal que já foi feito.
E, se é verdade (como temos afirmado há tempos) que o Poder Judiciário tem sido ao mesmo tempo ponta de lança e vítima desta revolução, não é menos verdade que, dentro desse mesmo Poder Judiciário, muitos juízes há que começam também a perceber o avassalador avanço dela, que desejam fazê-la parar e, na medida do possível, retroceder.
Há, enfim, muitos juízes (e, aparentemente, o número deles só faz crescer) dispostos a lutar para tomar de volta a Magistratura das mãos da revolução.
Mas não sejamos tolos.
É necessário que as forças conservadoras se deem conta de que o atual momento, de que a atual derrota das forças revolucionárias, é apenas isso: uma derrota. É verdade que a derrota é acachapante e desmoralizadora. É verdade que ela deixa aberto um rombo aberto no muro da cidade inimiga pelo qual se pode invadí-la e riscá-la do mapa. Mas, mesmo assim, é apenas uma derrota. E, se a vitória não for seguida de novas lutas (ainda mais duras), então, teremos perdido a chance histórica que a Providência Divina parece, num ato de compaixão ao nosso povo, ter-nos dado.
É por isso que, também no lado da Magistratura, a luta deve continuar.
O Movimento de Magistrados para a Justiça surgiu justamente do desejo de lutar para que a Magistratura deixe de ser agente e vítima da revolução; para que se livre do movimento revolucionário e para que retome seu lugar e seu devido status dentro do cenário nacional.
O momento é propício para isso.
Devemos, pois, seguir lutando. Sem medo de chacotas. Sem receio de represálias. Sem medo de defender o bem e a verdade. Sem medo, portanto, de reconhecer que existe um bem objetivo e uma verdade que podemos contemplar.
Sem medo, enfim, do campo de batalhas.
Tal como nossos antepassados fizeram a partir de Pelayo, é necessário avançarmos continuamente a partir de agora, até que a vitória seja completa.
Sem isso, o momento histórico que vivemos será lembrado no futuro como uma vitória de Pirro. E nós, como a geração que desperdiçou aquela que pode ter sido a última chance de salvar a Magistratura e de fazê-la, mais uma vez, brilhar aos olhos da Nação.
